Faz muito tempo que me considero um fã de NFL. A primeira temporada que acompanhei – só os playoffs, admito – foi no já longínquo 2009. Lembro que assisti por conta da história envolvendo o Saints: o time e a cidade de New Orleans ainda se recuperavam da tragédia do furacão Karina, e ver a equipe chegar ao super bowl e ainda ser campeã, com o jogo como foi, pareceu uma daquelas histórias melosas de filmes de Hollywood que eu acharia forçada demais e avaliaria mal. Aquilo me fisgou, me tornei fã do esporte – e do Saints – e continuei a acompanhá-lo ao longo dos anos.
Quando soube que haveria um jogo da NFL no Brasil, sabia que seria uma missão dificil – para não dizer impossível – conseguir um ingresso. Dito e feito: no dia de abertura das vendas, nem eu nem meus irmãos, também fãs do esporte, conseguimos lugares. A esperança já findava quando aconteceu uma daquelas coisas que o mundo parece fazer de forma aleatória: um antigo colega de trabalho não iria conseguir ir ao jogo e estava vendendo um ingresso. Não pensei duas vezes e comprei. Mas não para mim: para o meu irmão Jaime.
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Apesar de já ter 50 anos e ter começado a acompanhar depois de mim, ele se tornou um fã enorme do esporte, em especial do Kansas City Chiefs. Não importava que o jogo seria Packers x Eagles, eu sabia que para ele seria uma experiência inesquecível. Liguei para ele avisando e o presenteei. Quis o destino que, nesta sexta-feira, ele perdesse o voo que o traria para São Paulo, o que o impossibilitou de ir à partida. Essas coisas que o mundo faz: sobrou para mim ir ao jogo.
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Como foi ver Eagles x Packers no Brasil
O clima de jogo já começou logo no metrô, com muitas pessoas usando as jerseys de times da NFL. A maior parte estava de Packers e Eagles, mas muitos são apenas amantes do jogo como eu e estavam com camisas de Ravens, Bucaneers, Broncos, Giants, Saints...
Alguns desavisados apenas voltando para casa na linha vermelha do metrô de São Paulo chegaram a perguntar o motivo de tanta gente estar no metrô usando essas camisas estranhas. Um diálogo que captei:
– Tem jogo hoje?
– Tem, de futebol americano.
– Não é do Corinthians não?
– Não, é outro esporte.
– Ah, bem que eu estranhei, muito branco. Dia de jogo do Corinthians é mais povão.
Vale ressaltar, sem dúvida, o caráter elitista de qualquer evento destes: o preço dos ingressos era salgado, com o mais barato sendo acima dos 200 reais. De fato, não foi um evento para qualquer um. Uma pena.
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Chegando em Itaquera, o clima virou totalmente de NFL. Todo mundo – ou quase todo mundo – estava com jerseys. Neste ponto, a organização da cidade de São Paulo foi invejável: da saída do metrô até a entrada da Neo Química Arena, muitas pessoas com placas de ajuda-se, falando em inglês ou português, permitiam um deslocamento sem maiores problemas da estação Corinthians-Itaquera até o estádio.
Nas dependências da arena, porém, a organização se mostrou pior. A fila para alimentação e bebidas era enorme, com poucas opções do lado de fora. A fila para um dos carrinhos chegou a durar mais de uma hora – justamente o meu caso, não poderia ter sorte em tudo.
Muitos falantes de inglês não conseguiam se comunicar com o staff e vendedores de comida. Eu e outros bons samaritanos servimos de tradutores para as pessoas. Muita da experiência do lado de fora, loja da NFL, anéis de campeão e outras coisas, acabaram sendo perdidas pelas pessoas que decidiram, como eu, se alimentar ou beber algo antes do início do jogo.
Na parte interna do estádio, a organização já pareceu mais assertiva. Vi staffs ajudando pessoas com deficiência, auxiliando estrangeiros e guiando as pessoas aos seus lugares.
Já tinha ido à Neo Química Arena duas vezes – uma como visitante, quando a Portuguesa, meu time do coração, jogou contra o Corinthians pelo campeonato Paulista, e uma nas Olimpíadas, para ver uma partida do futebol feminino. Ver o estádio cheio de camisas verdes, com os Y para os field goals e o nome dos Eagles pintados nas antes áreas, agora endzones, foi um tanto estranho.
De início, a impressão que tive era de que a torcida estava relativamente bem dividida, mas com mais apoio aos Packers – até pelo barulho quando os dois times entraram no gramado para aquecer.
Logo antes de a bola oval ser chutada para iniciar a partida, deu para perceber o tamanho do evento que é um jogo de futebol americano. Bandeiras gigantes dos Estados Unidos e do Brasil entraram em campo, assim como as medalhistas olímpicas brasileiras para participar da escolha dos lados e de quem iria começar com a bola. Armaram-se estruturas para as cheerleaders na entrada do Eagles, teórico time da casa na partida, com direito a fumaça, fogos do lado de fora, iluminação especial. Um verdadeiro espetáculo.
Como foi a torcida em Eagles x Packers
Aí foi a hora do jogo. Em todos os intervalos, e no futebol americano são muitos, há algum tipo de entretenimento, seja uma música que sobe, as cheerleaders, algum jogo nos telões ou a bateria da Gaviões da Fiel, que fez uma aparição especial ao longo do jogo.
Ver toda a logística que envolve o jogo também impressiona: os pirulitos para marcação das jardas, os bancos de reservas, as câmeras sendo posicionadas e reposicionadas. É um evento de um esporte grandioso. Mas tinha que ter um toque brasileiro, como os xingamentos para o juiz, mandando-o "tomar caju" nos momentos de decisões dúbias, ou um grito de "tomar caju, Eagles".
A torcida, aliás, quando a partida começou, claramente apoiou mais os Packers. Minha percepção foi de 70/30. Acredito que não só pelos "cabeças de queijo" terem a maior torcida do Brasil, mas também por conta de certa antipatia que os Eagles criaram em alguns brasileiros devido a comentários sobre a segurança do país.
No intervalo, mais um trabalho quase inacreditável. Em pouco menos de cinco minutos, um palco estava montado no gramado da Neo Química Arena, pronto para receber o show de Anitta.
A apresentação foi grandiosa como o evento, com fumaça, fogos de artifício e muitos hits da cantora brasileira, que cantou músicas em inglês e espanhol, em busca de expandir o seu mercado – semelhante ao que a NFL fez ao marcar um jogo no Brasil. Com a mesma rapidez com que foi montado, o palco foi desmontado para dar lugar novamente à bola oval.
Dentro das quatro linhas, nada do que reclamar do jogo. Uma partida emocionante, com muitos pontos, grandes jogadas, uma atuação absurda de Saquon Barkley, corredor dos Eagles, e uma lamentável lesão de Love, quarterback dos Packers, nos segundos finais.
Apesar disso, o ponto alto da partida foi quando o sistema de som do estádio tocou Evidências, de Chitaozinho e Xororó, momento em que o estádio, em uníssono, cantou "e nessa loucura, de dizer que não te quero... Eu quero ouvir você dizer que sim". Diz que sim, NFL, e venha de novo para o Brasil!