Nesta quarta-feira (04/09), ocorreu uma reunião na sede da CBF, no Rio de Janeiro (RJ), para iniciar o debate sobre a implementação do fair play financeiro no Brasil. Dirigentes de Flamengo, Fluminense, São Paulo, Fortaleza, Internacional, Vasco e Palmeiras participaram do encontro.
Eles colocaram em pauta a necessidade de regras para serem implementadas em 2025. Os clubes ficaram de marcar uma nova reunião, ainda sem data prevista, para tentar avançar no modelo de implementação.
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Há duas semanas, a goleada do Botafogo por 4 a 1 sobre o Flamengo gerou um desabafo do presidente do Fla, Rodolfo Landim, sobre a ausência de um fair play financeiro no Brasil. A mensagem foi escrita em um grupo de WhatsApp, composto por apoiadores de Landim, e vazou para a imprensa.
– Acho que só neste ano eles já investiram 75 milhões de euros (R$ 450 milhões). Isso para um clube que teve um faturamento de R$ 322 milhões no ano passado. Sejam bem-vindos aos tempos de SAF sem fair play financeiro – escreveu Landim, no grupo.
O Botafogo virou SAF em 2022 e apresentou balanços "no vermelho" desde então. Os números de 2022 mostraram prejuízo de R$ 248,2 milhões. Já o balanço de 2023 foi fechado com déficit de R$ 101 milhões.
Mas o que é o "fair play financeiro"? O Sporting News explica.
Qual é a história do fair play financeiro?
Landim disse que o investimento feito pelo Botafogo em contratações nesta temporada não corresponde aos valores arrecadados pelo Alvinegro no ano passado. O conceito de "fair play financeiro" é, basicamente, fiscalizar que um clube só funcione tendo autonomia para pagar suas contas.
O "fair play financeiro" surgiu no futebol europeu. A Alemanha foi pioneira no assunto, com seu campeonato recebendo regras de administração financeira em 1962. No ano de 2009, a União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) iniciou a criação de suas regras, em um momento de crise econômica mundial.
Quando a Uefa passou a aplicar o fair play financeiro?
A análise da Uefa em 2009 mostrou que mais de metade dos 655 clubes europeus tinham sofrido perdas em relação ao ano anterior, com 20% deles sob risco de falência.
A implementação dos regulamentos ocorreu no início da temporada 2011/2021. Os clubes passaram a ter que respeitar uma gestão equilibrada, sem gastar mais do que ganham e evitando dívidas. Foi criado também o Comitê de Controle Financeiro dos Clubes da UEFA (CFCB), que analisa as contas dos clubes participantes das competições europeias.
Qual é a regra do fair play financeiro da Uefa?
A regra de ouro da Uefa é: os clubes podem ter, no máximo, 5 milhões de euros de déficit a cada três temporadas. Porém, com o tempo, ocorreram algumas flexibilizações: em 2015, a entidade ampliou o limite para 30 milhões de euros nos casos de clubes com donos. As dívidas podem, assim, ser pagas com fundos particulares do proprietário (não de terceiros, patrocinadores ou "laranjas").
Acionistas podem injetar dinheiro na operação desde que o aporte não seja maior do que 30% sobre a receita bruta do clube. E, caso um time tenha um plano de negócios para pagar suas dívidas, ele poderá romper o limite de 30 milhões.
Caso as regras sejam descumpridas, a penalidade mais severa é a desqualificação das competições europeias. Outras penalidades envolvem multas, retenção de prêmios em dinheiro e banimento de transferências de jogadores.
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Qual é o problema do Manchester City com o fair play financeiro?
Cada grande liga da Europa também tem suas regras de "fair play financeiro". Na Inglaterra, o Manchester City será julgado, a partir de 16 de setembro, por 115 possíveis infrações nas regras da Premier League. As irregularidades teriam acontecido entre as temporadas de 2009/10 e 2017/18.
Uma das polêmicas envolve até um patrocínio máster, que teria sido assinado por valores maiores que os praticados no mercado por conta de a empresa parceira ter ligação com a controladora do City.
O julgamento deverá durar dois meses e o resultado inicial está previsto para o início de 2025. O City pode ser rebaixado às divisões inferiores da Inglaterra. O objetivo é chegar a um veredito final, já incluindo uma apelação por parte do clube, até o final da temporada 2024/2025.
Qual é a defesa do Botafogo sobre sua saúde financeira?
Em 2024, o Botafogo realizou as duas maiores contratações da história do futebol brasileiro. Na janela do meio do ano, o clube contratou Thiago Almada por R$ 137,4 milhões. Já no início da temporada, o atacante Luiz Henrique foi adquirido por R$ 106,6 milhões.
O Campeonato Brasileiro ainda não tem uma regulamentação sobre fair play financeiro, como citado no começo desta matéria, apesar de autorização dada pela Lei Geral do Esporte, criada no ano passado.
Dono da SAF do Botafogo, o americano John Textor rebateu a fala de Landim sobre as condições do Alvinegro.
– Ele (Landim) é um cara adorável, mas está errado… Nossos salários agora representam 45% das receitas… Tenho certeza que ele ficaria surpreso com nossas receitas, mas ultrapassamos US$ 100 milhões (R$ 540 milhões) no ano passado… Muito mais alto do que a maioria das pessoas no Brasil pensaria… e publicamos esses números em nosso site. O Fair Play Financeiro sugere que o salário deve ser inferior a 75% das receitas... Portanto, estaríamos em total conformidade com as regras europeias – disse Textor, entrevista ao jornal "O Globo".